A Lagarta e o Pássaro


A Lagarta e o Pássaro
Augusta Schimidt

Era uma vez uma lagarta que vivia em terras distantes... Era uma vez um pássaro que adorava voar e atravessar o céu de norte a sul no planeta...
Certo dia a lagarta muito triste com a vida que levava, resolveu ir para a janela olhar o mundo. Nada a consolava. Nada aliviava tamanha tristeza. Fazia isso todos os dias até que de repente eis que um pássaro lindo e gentil pousa na janela para descansar. Conversaram muito, ficaram amigos e todos os dias o pássaro vinha pra janela da lagarta para  papear. O tempo foi passando e a lagarta já nem se lembrava mais de sua infelicidade. Esperava feliz a hora do encontro. Foi assim, sentindo a alegria de viver novamente que descobriu que havia se apaixonado pelo pássaro. Ele também se dizia apaixonado e a intimidade entre os dois foi crescendo como é natural. Por vezes eles brigavam. A lagarta tinha um gênio difícil, mas o pássaro não fazia por menos. Desconfiado e arredio, às vezes ele arrepiava as penas e chegava a fazer a lagarta chorar. Mas ela era danada de teimosa e lutava por aquilo que queria. Lutou mesmo, enfrentou toda espécie de tormentas, lutou contra linces e lacraias, mas nunca deixou de acreditar no seu pássaro encantado. Nada do que diziam lhe importava, pois ela aprendeu a conhecer o pássaro como ninguém. E ele apesar de ser complicado e desconfiado era de um caráter a toda prova o que encantava a lagarta e a fazia amá-lo sempre mais e mais. Muito tempo se passou. Enfrentaram os dois, verdadeiras tempestades, mas nada os afastou.
O amor da lagarta era tão grande, tão maior do que se podia imaginar que às vezes o pássaro chegava a dizer que era doença, que era anormal.
Quando ele dizia isso a lagarta chorava de tristeza.
Como eles não se largavam, algumas abelhinhas ciumentas resolveram picar o pássaro para ver se ele voltava pra casa e deixava de visitar a lagarta que logo percebeu a manobra e com medo de perder seu grande amor foi ficando triste de novo, pois já não saberia mais viver sem o seu pássaro. Ele por sua vez lhe garantia que não a deixava, pois sempre foi cumpridor de sua palavra. Palavra dada era uma só e mesmo que lhe custasse ele não a abandonaria.
Só que a lagarta começou a ficar insegura, tantas lhe fizeram que o medo tomou conta do pequeno ser.
O pássaro embora não a tivesse abandonado em momento nenhum, começou a mudar e até nem parecia mais o mesmo. Dizia coisas que nunca poderiam sair daquele coração sempre tão terno o que fazia a lagarta sofrer mais e mais. E a bichinha incansável, declarava o seu amor pelo  pássaro para que ele soubesse que ela apesar das coisas ruins jamais deixou de amá-lo.
Não se sabe o que aconteceu, pois hoje, aquele pássaro tão lindo, por dentro e por fora resolveu rir a gosto das palavras da lagarta. Ela depois de uma discussão lhe disse que embora fosse geniosa, tinha um coração a transbordar de amor por ele, mas ele riu. Riu muito, o que fez com que a lagarta perdesse o sono a pensar na atitude tão estranha. Rir do amor? Rir da sinceridade? Da lealdade? Rir da dedicação com veneração que a lagarta tem por ele? O que será que está errado? Será que o pássaro já não ama mais a sua lagarta? Ou será que alguma borboleta pousou nas asas do pássaro, fazendo com que ele sonhe novos rumos. Não sei, mas gostaria de saber por que o amor da lagarta foi motivo de riso. Talvez o pássaro não saiba que um dia, quando a lagarta se for, poderá ele se esquecer do riso para dar passagem ao choro do arrependimento e da saudade. Talvez ele não se tenha dado conta de que o amor a distancia assim tão grande e tão fiel seja mesmo um amor puro, verdadeiro, pois a lagarta lhe conhece o mel e o fel, mas mesmo assim ama com imensidão.
Se o amor não fosse tão grande já teria se desligado. Com um clique tinha apagado qualquer vestígio de sua existência e não precisaria sofrer. Este riso foi injusto. Foi uma demonstração de pouco caso, de deboche. E a lagarta quer entender por que foi que seu pássaro amado teve esta atitude nada própria da elegância habitual dele. A lagarta esta doída, triste, sem jeito, arrisco a dizer até que está envergonhada, pois sente que está a ser rejeitada.
Agora só lhe resta que a noite passe, lenta e silenciosa e quem sabe amanhã seu pássaro lhe explique o motivo do deboche.